sábado, 14 de abril de 2018

Galway Kinnell - NO HOTEL DA LUZ PERDIDA


1
Na cova
da minha mão esquerda morreu o cheiro bêbado
de autópsias, o meu corpo desabou
para a sua forma, observo, tal como
ele deve ter observado, uma mosca
enleada no adesivo, chorando as suas asas,
completamente concentrado no
tempo, tempo, perdendo o seu norte pior
descendo a escadaria em caracol, as suas asas
chorando por vida enquanto se paralisa
no olhar contemplativo
do abraço do prosencéfalo da aranha, o abstracto arregalar
no qual até mesmo o pesadelo cospe os seus horrores
e morre.

Agora a mosca
cessa de lutar, as suas asas
alvoroçam a música nascendo com o falhanço
de alguém que se prepara para morrer, como o olifante de Rolando, resumando
lá dos Pirinéus, salvou os seus flancos escuros e cheios
para o fim.


2
Na luz
esquecida pelas pequenas
aranhas de sangue que deturparam
as suas memórias ao longo dos seus ombros
e peito, o quarto
ecoa com os mínimos batuques
de pêlos púbicos arrancando-se
dos seus lugares; na pele despida
os apaixonados piolhos
lutam por se descolarem e fugirem da posição condenada –

e param,
cabeças enterradas
para um último trago da amada-carne.


in Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Houghton Mifflin Company, Boston & New York, 1971: 35-36

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