Carne
da sua desaterrada carne,
cheia do seu vazio,
pós-amanuence da sua pós-vida,
eu escrevo
por ele neste definhado alfabeto
de vermes, estas suas últimas
palavras, envio por ele
o seu derradeiro postal para a posteridade.
4
“Eu sentei-me junto do fogacho que se iluminava com a gordura derramando-se dos membros borbulhentos da galinha,
Eu desmaiei no esquecimento junto àquela fenda na curva onde os malmequeres nascem,
Eu vi a roda gigante escrevendo os seus zeros enormes e desolados a néon nos céus nocturnos,
Eu pintei as solas dos meus pés de púrpura para esse dia em que a bela cor se mostraria,
Eu titubeei sentenças de morte ao longo de ruas vazias, as calçadas asseguraram-me, assim será.
Escutei os meus próprios choros já bramidos para dentro de garrafas que as ondas naufragam nas praias,
Eu escrevi como outro as minhas próprias preces no corpo-árabe dos pesadelos.
“Se o porteiro bater, queixando-se de novo
acerca do cheiro doce, excrementício de cadáver aberto rastejando
por debaixo da porta, diz-lhe, 'Amigo, Para Viver
tem um primo pobre,
que chega hoje à noite, que pronuncia o nome de família
Parta, ela
muda a cada visita os trapos de carne nos seus ossos.'”
in Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Boston & New York, Houghton Mifflin Company, 1971: 36-37
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