terça-feira, 29 de dezembro de 2015

De Berlim a Lisboa VI

St. Hélène, Bordeaux

não és beatriz nem eu sou dante
e por guia esteve ausente vergílio

na nossa descida pelos labirintos
por estradas ladeadas de castelos

cruzando vilas vazias quase desertas
como esse lugar erigido por monges

hoje habitado por fugazes turistas
mijando onde calha crendo-se invisíveis

jovens empregados ensonados bocejando
e velhos pescadores que mal soltam as amarras

do barco que são passando o tempo olhando
o mar como se do rebate escutassem os mortos

ou a cantiga de uma sereia para uma última partida
e porque rolamos a sul lentamente perdemos

o ferry de outubro para a quase ilha
forçando-nos um novo desvio

outra travessia de perdição e a chegada
ao destino incumprindo o compromisso

temporal aí a meio caminho desta viagem
encontrámos a serenidade para o recobro

um paraíso para o corpo e o estupor
tivemos também o nosso pessoal inferno

com a limpeza de um jardim e de uma piscina artificial
de águas paradas como um lago tomado pelo inverno

e esquecido pelos banhistas como afinal foi esta região
passado o verão aqui fizemos breves incursões

entre oceano e floresta até à antiga cidade de bordéus
onde renovámos laços afiançámos um retorno

e no regresso a casa para nossa surpresa
sermos recebidos com a afirmação

inesperada de uma amizade uma breve nota de
esperança para as relações entre estranhos