segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

silêncio seco e mármore

silêncio seco e mármore
que escalda a planta e a caruma
tornando o corpo
pedra sujeita à perícia
do tédio

cigarras rolas por entre o abrir de pinhas
na sua fatídica queda
na sua fatídica quebra
e eu ali          encurralado
entre tempos avançando pelo nevoeiro
a lapidar o rosto

cerro-me por estas vias junto ao rio
de terra dura e espelhada pelo gelo
uma fina lâmina de relva
degolaria um anjo
à procura de quem guardar

entre tempos entre espaços
nunca chegarei ao futuro
sofro de proustianismo
quanto mais se crispa
o corpo na sua solidão
mais a modorra canicular
do que foi me cega ao que vem

Sem comentários: