terça-feira, 23 de abril de 2019

Visões da Serra

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és um pedaço de carvão que respira
nessa cama algodoada          uma lasca
de grafite a cortar os campos
sempre verdes das terras alemãs
a sombra de uma sombra ou uma alma
a suspirar quando te sentas
ao meu colo pedindo atenção e com prazer
concedo as mãos no teu dorso
pelo queixo massajando
os teus triângulos de veludo que cobrem
o vasto mundo de barulhos sons e gentis
ares alheios ao meu sentido e
a tua barriga tracejada a branco
onde o bisturi te raspou a nada
o que ao futuro darias

dormes numa espiral de número d'ouro
numa perfeita paz que me desperta a inveja e
a curiosidade          quem te faz ganir
e uivar e ladrar e correr
no vazio         quem te habita
o sonho         será o meu          o de olho
a olho e entendimento estendido
por cima da areia de diferenças
a imergir no mar da tranquilidade
em que tu e eu nos sabemos iguais
ou a rainha da floresta teutónica
protegendo as suas crias da tua manha

se lesses este poema saberias que te respeito
te levo ao peito e memorizo o teu corpo
e movimentos e apenas procuro livrar-me
desta doença da interpretação humana
demasiado humana impedindo-te de seres
um simples animal intocado e colonizando-
te com a minha linguagem quando sou eu
quem é surdo cego e analfabeto
ao que dizes com a tua vida vivida a meu lado

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