para o meu pai
conheci-te com um grande silêncio sentavas-te
no sofá da sala o olhar preso
nas letras e em redor
uma névoa acreditava que guardavas
como a terra os cristais longamente
crescidos sob estrondosas pressões
segredos amordaçados por vinho e whisky
maços de gigante o que havia
a dizer não era nada
que eu já não soubesse e aos poucos
vindo à flor do cérebro ou à boca
dos dedos mordendo a caneta
sei do dia a morte sentar-se-á
a teu lado como eu em visita
não reconhecerás qualquer rosto
e ela de quem ninguém olvida
oh tu náufrago do rio Letes
no teu escritório do pensamento
guiar-te-á lentamente num jogo
de vingança depois de ter arrancado os cabelos
e te injuriado do alto de penhascos
como Dido
porque te esqueceste de ir morrendo
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