Esse concerto de Bach a que assisti há muito tempo atrás –
a sala lustrada
de madames e senhores que nunca morreriam...
as vozes desvanecem-se,
a sala aquieta-se,
o violinista
põe o seu irreversível rosto sofrido
na palma aberta
da madeira, a música começa:
um chuveiro de resina,
os cabelos dos arcos escutando em todo o seu comprimento
ao lamento,
o lamento sexual
dos becos e os fios de sangue que vivemos
ainda choram,
ainda cantam, do intestino cortado
do gato.
6
Este poema,
se o podemos assim chamar,
ou concerto de um
dividido entre si,
este gesto dirigido à terra
do paraquedista, os vermes
nas suas costas ainda rodopiam em diante
e já roendo
as sedas dos seus amores, que poderiam tê-lo salvo,
esta queda livre de alguém
abrindo os seus braços na atitude
de vôo, à medida que obedece à necessidade e cai...
7
Sancho Fergus! Não chores!
Ou melhor, chora.
No corpo,
na carne azulada, quando é
deposta, vê se consegues descobrir
a única pulga que se está a rir.
in Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Boston & New York, Houghton Mifflin Company, 1971: 74-75
(este foi o último poema do Livro de Pesadelos)
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