Uma vez num restaurante, todos
comendo silenciosamente, tu escalaste
para o meu colo: a todos
os bocados que subiam para
todas as bocas, do topo da tua voz
exclamaste
a tua única palavra, caca! caca! caca!
cada colher cheia
parou, um momento, suspensa, no seu vapor
secando.
Sim,
tu abraçaste porque
eu, como tu, mas mais cedo
do que tu, irei
pelo trilho dos alfabetos sumidos,
o sentido de nenhuma estrada
para o outro lado das trevas,
os teus braços
como os sapatos deixados para trás,
como os adjectivos nos discursos hesitantes
de homens velhos,
que um dia souberam os substantivos perdidos.
4
E tu própria,
numa qualquer Terça-feira impossível
do ano Dois Mil e Nove, sairás
por entre as pedras negras
do campo, sob a chuva,
e as pedras a dizer
na sua única palavra, ci-gît, ci-gît, ci-gît,
e as gotas de chuva
batendo-te na fontanela
uma e outra vez, e tu aí de pé
incapaz de as deixar entrar.
in Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Boston & New York, Houghton Mifflinn, 1971: 50-51
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