Tu gritas, acordando de um pesadelo.
Quando sonambulo
até ao teu quarto, e te pego ao colo,
e ergo-te à luz da lua, tu abraças-me
com força,
como se o abraçar nos pudesse salvar. Eu penso
que tu pensas
eu nunca irei morrer, eu penso que exsudo
para ti a permanência do fumo ou de estrelas,
mesmo quando
os meus braços partidos se saram em torno de ti.
2
Escutei-te a dizer
ao sol, não desças, permaneci
enquanto dizias à flor, não envelheças,
não morras. Pequena Maud,
Eu apagaria a chama da tua chávena de prata,
Eu sugaria a podridão da tua unha,
Eu escovaria a luz moribunda da tua cabeleira rala,
Eu rasparia a ferrugem dos teus ossos de marfim,
Eu ajudaria a morte a escapar-se pelas pequenas costelas do teu corpo,
Eu alquemizaria as cinzas do teu berço de novo em madeira,
Eu nunca deixaria nada de ti desaparecer, nunca,
até que lavadeiras
sintam as roupas adormecer nas suas mãos,
e galinhas arranhem o seu feitiço ao longo das lâminas de machadinhas,
e ratazanas fujam das culturas da peste,
e ferro torça as armas em direcção do verdadeiro norte,
e unto se recuse a deslizar na maquinaria do progresso,
e homens se sintam tão livres na terra como pulgas nos corpos de homens,
e amantes cessem de sussurrar à presença a seu lado no escuro, Oh cadáver-a-ser...
E no entanto é talvez esta a razão por que choras,
este o pesadelo do qual acordas a gritar:
permanecer para sempre
no pré-tremor de uma casa que cai.
in Galway Kinnel, The Book of Nightmares, Boston and New York, Houghton Mifflin Company, 1971: 49-50
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