atravessei os séculos na poeira dos livros
fiz da leitura uma prática respiratória
deitei-me com as formas até ao amanhecer
e juntar a minha voz ao canto
make it new make it new
porque o rei vai nu
e escavo o cérebro e abro o coração
dou e tiro o meu rosto como a luz
aos turistas frente à mona lisa
e ao fim do dia
nada sei da poesia
há quem escreva como quem pisca o olho
ao vizinho pelo belo achado o dito jocoso
opinando sobre a sua e alheia vida
mas fechando o computador ao fim do dia
olha pela janela e não sabe ainda o que é a poesia
há também aqueles que se enchem de álcool e tabaco
e por trás de uma névoa de cenho cerrado
delapidam a página com a justa palavra
ou uma antiga ou já morta
dando pareceres de sua lavra
e fechando o caderno esborratado
atentam o calo da caneta ao fim do dia
murmurando para si afinal o que é a poesia
há quem não a faça desistiu pelo caminho
mas subiu a longa escada do saber
e do alto onde moram as águias
tem a vista larga abarca os meandros do rio
da criação e escreve par et contre
como vanguarda e guardião
porém quando de novo tenta para dar a prova
(as paixões são carraças tramadas de arrancar)
e o cesto se enche de papéis
o seu pessoal grilo ajuíza-o ao fim do dia
também tu não sabes o que é a poesia
há quem reúna grupos à direita e à esquerda
iluminados pelo oráculo ou atraídos pela musa
sentada ao balcão de um bar comportando-se como um
macho cabrão graças ao feminismo pop
se auto-publicam na sua editora e revista
como quem separa o joio do trigo
e quando destronarem os e as grandes
e igualmente o seu nome se escrever
nas mudas páginas da esquecida história
da literatura enfim podes dizer o verso hipócrita
leitor para bom entendedor duas palavras bastam
__ ___ __ dia
___ __ ____ _ poesia
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