o estio sustinha-se no canto das cigarras
e abrasava a pele como um cigarro
abandonado num diálogo de vida
ou
morte sobre uma toalha de mesa
cegando os olhos de amarelo
da areia e das ervas secas
a tarde equilibrava-se entre o ócio e o tédio
da digestão e das aventuras de Tom Sawyer
sempre descalço como tu
nesses pés sempre puros e brancos da ficção
e não como os teus puto manchados de resina
desses pinheiros prenhes de sombras e carochas
havia o chão axadrezado onde dispúnhamos
as estratégias da infância e adolescência
em toques de bola e imaginárias
pistas de corrida de bmx aí o mármore
fervia logo nas manhãs mais quentes e sem ninguém
saber testavas os limites da dor pela planta desses pés
mais tarde tudo te era um sinal de qualquer outra coisa
não só as palavras te falavam o mundo interior
havia a luz os silêncios e aquela pomba morta
entre os ramos de um limoeiro que te disse
antes de se aproximar o fim do teu primeiro amor
no pinhal anzóis e velhos marinheiros teciam as suas redes
como as suas mulheres de negro durante o inverno
as teias do coração e da memória e depositando
à noite os lábios nos pés
de santos de olhar de pedra no êxtase do vazio
na vila o transparente verde desse mar
sobre a sereia e por baixo vogando
anjos marinhos véus adejando pelas corrente
a quem nunca te aproximaste temendo
a queimadura
tudo hoje é a mesma coisa sendo
outra
por trás do cimento da época
já nem de pátina se cobre o velho cronos
e é tanto o medo das trevas que como crianças
deixamos a luz permanentemente acesa
cegando-nos para os pirilampos
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