sexta-feira, 20 de abril de 2018

Galway Kinnell - No hotel da luz perdida


5
Hematomas violetas surgem
por toda a sua pele, à medida
que punhos invisíveis lhe sovam um última vez; o lamento
do sangue de ónfalos recomeça, o umbigo
inchado explode, o pesadelo
carnal eleva-se de volta para o princípio.

6
Quanto aos ossos a serem lançados
no aceldama atrás da loja de cerâmica, entre
fragmentos e caroços
que apanharam o vórtice e caíram
na lama, ou rastejaram para fora do fogo
alucinados ou explodidos, eles reerguer-se-ão
na pereira, na primavera, para iluminarem
em dois apertos o que sonharam ser um e o outro.

Quanto a estas palavras dispersadas no futuro –
posteridade
é uma inventada tão no seu passado
sequer se ouvem.

7
O que precede foi traçado
em Março, do ano Setenta,
na minha décima sexta milionésima noite de guerra e loucura,
no Hotel da Luz Perdida, debaixo da autoestrada
que ruma para as trevas
da lua, no absoluto encanto
da partida, e pela luz
dos hemisférios unidos dos olhos da aranha.


in Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Boston & New York, Houghton Mifflin Company, 1971: 37-38.

2 comentários:

flor disse...

tão bom.

fernando machado silva disse...

creio que ele agradeceria e eu pela visita