sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

dois poemas de Paulo da Costa Domingos




Um vento atiça o gato, expulsa
essa dádiva selvagem do bosque
primitivo. E o espanto senta-se
diante do pingo da torneira e recorda
o pulsar fresco, encosta abaixo,
de águas agora engolidas pelo ralo
no doméstico crepúsculo.
Que também aves e plantas dividem,
numa despedida à roda do parapeito.

*

Fazer a verdura voltar
a parecer verde
para que os gatos se purguem
e o apaziguamento da idade
se concilie com a Natureza.
Não daquela relva artificial,
mas o artifício d'um crescimento
isotrópico. Para colmatar
a tristeza.

in O Homem Quase Novo, Lisboa, Frenesi, Novembro de 2010

poderão comprar aqui

p.s.- muito obrigado caro paulo da costa domingos

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