num escuro ardido pela vontade de a saciar
e onde os olhos moldavam as trevas
junto aos corpos que envolviam o seu sono
tocaram uma falta de pesadelo no princípio
era a sede e o pai
ergueu-se saído dos seus sonhos
mãos estendidas para levar o vaso com a água e o escuro
era demasiado escuro e a sede avançava
árida pela garganta que o apelo não cessava
e o pai fez a escuridão recuar abrindo o espaço
com uma luz forte e branca
e dela saíram as sombras
e os seus olhos animaram um sentido que não percebia
e o medo surgiu onde nada havia
e o que uma vez estava em si agora
respirava com o movimento dos seus olhos
e o apelo tornou-se choro
e a mãe fechou-o no seu peito farto de leite
e ordenou o pai amaciar a luz em amarelo
aproximando-se das coisas como uma carícia
não forte mas farta como o seu peito
foi-lhe dito que no nada nada havia e que se enchia
pela imaginação só que uma vez
saído do escuro onde estava na existência do sono
para a penumbra suave em que o pai tinha
a água e a mãe o leite no peito batido
por um coração farto de amor
não mais quis voltar
porque agora havia o escuro da imaginação
e a mãe e o pai derrotados pelo cansaço
trouxeram a canção aos seus lábios
e revezavam-se nos seus modos de o apaziguar
o pai com as suas vagas de oceano
a mãe com a espuma de beira-mar
e não mais podiam contra a noite quente de julho
e não mais podiam contra o seu desejo de despertar
e quando à terceira não mais podiam
ele largou as amarras e adormeceu
junto ao corpo nu e morno da mãe
e o pai com a insónia de um faroleiro
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