sábado, 20 de junho de 2020

Carta ao filho

leguei-te a dor do mundo
o lamento em cada
olhar de animal
espoliado da sua vida

sempre tivemos o suficiente
mas por mais
lendas e mitos         frutos fogo
                                               asas coladas a cera
move-nos um desejo insaciável
de tocar o impossível         uma sede
de sermos amados         vistos como obras
de arte        únicos         indeléveis
no tempo         para além da morte
duas criações que também a ti deixámos

dói-me esta língua de gritos
choro e silêncio e é o que me resta
de mais delicado
com ela chego a ti antes de nasceres
endereço-te poemas
para que atravesses o imperdoável

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