sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

No Convés



Meia-noite a meio-Atlântico. No convés.
Enrolados em si como num espesso velamento
E mudos como manequins numa loja de roupas,
Alguns passageiros seguem o trilho
Do velho mapa celeste fixado no tecto.
Pequeno e distante, um único barco

Aceso como um bolo de casamento de dois andares
Leva as suas velas lentamente adiante.
Agora não há muito mais para ver.
Ainda ninguém irá mexer ou falar –
Os jogadores de bingo, os jogadores amando
Num quadrado tão grande quanto uma carpete

São conduzidos por cristas e meandros,
Cada um estagnado no seu minuto particular
E encastelado como um rei.
Gotinhas marcam os seus sobretudos, as suas luvas:
Elas voam demasiado depressa para que sintam que molham.
Tudo pode acontecer para onde vão.

A descuidada revivalista senhora
Para quem o bom Senhor provém (Ele deu-
Lhe um livro de bolso, um alfinete de chapéu de pérola
E sete sobretudos de inverno no passado Agosto)
Reza sobre o seu peito para que possa salvar
Os estudantes de arte de Berlim Ocidental.

O astrólogo junto ao seu cotovelo (um Leão)
Escolheu a data da sua viagem pelas estrelas.
Gratifica-se pela ausência de bolos de gelado.
Será rico num ano (e deveria sabê-lo)
Vendendo às mães Galesas e Inglesas
Nativos aos dois e aos seis.

E o joalheiro grisalho da Dinamarca está a talhar
Uma mulher facetada na perfeição para lhe
Servir dos pés às mãos, muda como um diamante.
Balões aluados presos por um fio
Aos pulsos dos seus donos, os leves sonhos flutuam
Para serem libertos à notícia de terra.

in Sylvia Plath, Crossing the water - transitional poems

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