Bagneux, Paris
e a terra foi ficando para trás
embebida em orvalho e vapor
de esterco elevando-se em torre e o horizonte
inclinado de verdes colinas lentas vacas
suspensas nos seus olhares pestanudos e desinteressados
de toda a tecnologia e dos corpos que as olham e comem
nós corremos e passamos com as nossas curiosas
sombras até a cor se dissociar do chão e das copas
e de novo o outono afirmar a sua paleta
enterrando
a sua espada cobrindo de cobre o mundo
descansámos como a lebre da nossa lenta viagem
de tartaruga onde o fabulista nasceu e nunca veio a contar
a nossa passagem ou imaginar que um e o outro nascesse
ou sequer nos juntássemos para uma ulissíada europeia
descemos quase ao longo do sena vendo as vinhas brotando-
nos a volúpia de um vinho futuro ameaçado pelas máquinas
e seus condutores sedentos da protecção das suas casas correndo
o risco de a elas não chegar porque o tempo de um dia é insuficiente
para uma vida que pode acabar a qualquer momento
assim escolhemos a calma periferia da luz e do movimento
e nessa cidade apreciámos nas restantes horas disponíveis a fonte
das imagens dos amantes as pontes suicidas dos corações
alocados onde hoje como outrora o que mais se joga
é a sorte de baralhos viciados ou a fácil momentânea vida
ficou prometido o retorno um desejo mais na lista do limbo
onde tantos já foram esquecidos menos o desse tinto na noite parisina
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