domingo, 14 de setembro de 2014

o filósofo enquanto detective

fechou o caderno mantendo o indicador a cumprir a tarefa de marcador e, durante alguns segundos, repetiu o texto que acabara de ler como uma criança cantando uma ladaínha: "o filósofo deveria ser como um detective. a ideia é o crime perpetrado ou em vias de se realizar - embora neste caso ele seja o assassino. as duas vias complementam-se; o melhor seria ele ser um detective que apagou da sua memória o crime que executou e segue em busca das suas próprias pistas até que se confronta com o trauma, a «verdade». uma ideia é um conjunto de elementos díspares dispersos, o filósofo agrega-os, tece a trama lógica - causa e efeito são produzidas a posteriori e a fortiori. nenhum criminoso quer ser apanhado ou parado, as pistas - ideias, argumentos, conceitos - são as marcas inadvertidamente largadas. para o assassino ou o criminoso o processo é ligeiramente diferente. ele joga com as probabilidades, planeia os movimentos, experimenta os passos como um jogador de xadrez, vai tentando e tentando até que o plano não aparenta falhas e eis que a ideia se apresenta e tu cais no seu ardil. só os assassinos são criadores. pense-se nos grandes pensadores, estes são os assassinos; os seus epígonos e seguidores, ou críticos não-criadores, são os detectives. por vezes um desses detectives comete um crime. qual dos dois queres ser, o criminoso ou o detective?"

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