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Nas mais esplêncidas cenas de Goya parece que vemos
as pessoas do mundo
exactamente no momento em que
adquirem pela primeira vez o título de
"humanidade sofredora"
Escrevem no topo da página
numa verídica raiva
de adversidade
Seguindo em frente
gemendo com bebés e baionetas
sob céus de cimento
numa paisagem abstracta de árvores destroçadas
estátuas torcidas morcegos asas e bicos
forcas escorregadias
cadáveres e galos carnívoros
e todos os gritantes monstros
da
"imaginação do desastre"
são tão tremendamente reais
é como se tivessem realmente existido
E existem
Só a paisagem mudou
Eles ainda se dispõem ao longo das estradas
atormentados por legionários
falsos moinhos de vento e frangos tresloucados
Nós somos a mesma gente
apenas mais longe de casa
em auto-estradas de cinquenta faixas de largura
num continente de betão
espaçados por calmos cartazes
ilustrando as imbecis ilusões da felicidade
A cena apresenta menos carrinhos-de-mão
mas mais cidadãos debilitados
em carros coloridos
e têm estranhas matrículas
e motores
que devoram a América
in Lawrence Ferlinghetti, A Coney Island of the Mind, New Directions Books, New York, s.d. (1958), 44ª edição: 9.
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