terça-feira, 23 de outubro de 2012

Octavio Paz - soneto (1935)



I

Imóvel na luz, mas dançante,
teu movimento à quietude que cria
no cimo da vertigem se alia
detendo, não ao voo, sim ao instante.

Luz que não se derrama, já diamante,
detido esplendor do meio-dia,
sol que não se consome nem se esfria
de cinzas e fogo equidistante.

Espada, chama, incêncio cinzelado,
que nem minha sede aviva nem a mata,
absorta luz, luzeiro ensimesmado:

teu corpo de si mesmo se desata
e cai e dispersa-se tua brancura
e voltas a ser água e terra obscura.

in Octavio Paz, Libertad bajo palavra, obra poética (1935-1957), Fondo de cultura económica, sucursal para España, col. letras mexicanas, Madrid, 1990: 14.

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