terça-feira, 5 de julho de 2011

a mala da paula coelho




para a paula, claro

A primeira vez que abrimos a mala da Paula por pouco ficámos cegos. Um brilho brotava rutilante, como do fundo de um lago um pedaço de vidro faz-se afogado sol. Tendo desviado as nossas cabeças de tamanha luz, por sorte também não nos decepámos – embora tenhamos ficado com uma dor de cabeça que nem lembra ao diabo pelo choque dado, uma contra a outra –, pois uma andorinha esbaforava por encontrar a boa brisa primaveril sustendo, nas suas delgadas patitas, pelos sobrolhos, um gigante. Este, que sempre viveu encolhido numa lúgubre caverna dos folhos interiores, essas plissagens sombrias, junto ao abismo das moedas esquecidas, tinha, teremos de vos contar, um medo nada icaríaco das alturas.
As suas unhas eram espelhos gelados, níveos campos, onde ganchos, de várias formas e tamanhos, faziam competições de dança de salão. Tomou-se-lhe tal nervoso, antes somente visto quando Tristão teve Isolda despindo-se nos seus sonhos, que da sua florestal cabeça uma tempestade de caspa caiu, vindo de imediato um bando de pinguins abrir um bar que, no mesmo instante, se encheu de lápis e canetas, cada um traçando mapas, escrevendo nomes, números, músicas, memórias, sobre mesas, cujos tampos eram agendas, cadernos de capa preta.
Sentámo-nos, eu e a cris, para recuperar do susto, em duas cadeiras vagas de uma mesa, onde já esperavam uma cigarrilha e um inalador a boca e a voz rouca. Estas chegaram pouco depois e a noite ficou ébria de histórias, contos e risos.

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