Eu esperei também
uns trezentos anos
enfeitiçado no preto
daqueles olhos
Recordo claros os ombros
e como os ponho ainda
tão nobres tão solenes
nas pás dos remos
Um dia foi embora
e há uns anos voltou à terra
mas não sei se lhe lembra ainda
que eu também ia
*
O COXO
Com os anos o corpo prepara
é quando o mar trabalha na gente
e pela calada lá no fundo
as flanelas alargam
É o empurra um a um de vagas
mandadas de um livro de aventuras
ninguém ali e demasiado céu
por onde ir espalhando a vista
O mar trabalha na gente
é como dantes e com pedras
a mais
*
O ESPANHOL
Bem parado
já não me torna
aqui o mar
Vou à praia e
recolho umas pedras
que se vão deixando
lá por casa
mas não ligo
O mar é muito grande
eu amarrei nele com força
mas a vida vai-se esfrangalhando
e é só isso.
in Buchas (da série 20&tantas buchas com piratas em uma pedra parecida), Lisboa, ed. autor, Dez. 2010
(NB - para saber como adquirir a plaquette, seguir por aqui)
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