sábado, 16 de abril de 2011

Velas




São os últimos românticos, estas velas:
Corações de luz virados de cabeça para baixo gotejando dedos de cera,
E os dedos, tomados pelos seus próprios halos,
Crescem leitosos, quase límpidos, como os corpos dos santos.
É tocando, o modo como ignorarão

Toda uma família de objectos proeminentes
Simplesmente ao mergulhar os abismos dos olhos
No vazio de sombras, a sua franja de canas,
E o dono, passando dos trinta, sem beleza alguma.
A luz do dia seria mais sensata,

Dando a todos uma audição justa.
Eles deveriam ter saído com balões ao vento e o esteróptico.
Não são horas do ponto de vista privado.
Quando eu as acendo, as minhas narinas picam.
Os seus pálidos, tentados amarelos

Arrastam falsos sentimentos eduardianos,
E eu lembro a minha avó materna de Viena.
Quando pequena e na escola deu flores a Franz Josef.
Os burgos suaram e choraram. As crianças vestiram-se de branco.
E o meu avô, enfadado no Tirol,

Imaginava-se um chefe de criados na América,
Flutuando num silêncio monástico
Entre baldes com gelo, glaciais guardanapos.
Estes minúsculos globos de luz são doces como pêras.
Gentis com inválidos e mulheres insípidas,

Elas amolecem a lua glabra.
Almas de freiras, queimam pelo céu e nunca desposam.
Os olhos das crianças que cuido estão mal abertos.
Em vinte anos estarei retrógrada
Como estas efemérides esboçadas.

Observo as suas lágrimas derramadas enevoar e cegar como pérolas.
Como poderei dizer qualquer coisa
A estas crianças ainda no berçário?
Hoje à noite, como um xaile, a suave luz envolve-as,
As sombras debruçam-se como convidados de um baptismo.

in Sylvia Plath Crossing the water - transitional poems

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