terça-feira, 5 de abril de 2011

poema sentido

escrever (e será isto poesia) sobre
a justa pele estendida à vida e continuar
sabendo única escrita o espaço que dista
aqui enquanto se faz o toque. dizer
no começo eu sou um homem tão pouco
dizê-lo e ser sendo sem nada
(é por aqui a entrada basta
cravares mais fundo essa adaga
a que chamas amor para dizer ou escrever
no anonimato destes lençóis e etc.)
construir o mundo assim ao fim do dia
em silêncio a técnica pelas janelas
(o som de carros da segunda circular
até aqui ao quarto sexto andar
ou no sul de terra rossa onde
o mar murmura justo à nossa cama)
ou a mão adestrada e apenas
o raspar da caneta no papel e os sons do corpo
(o meu o teu)
deste aqui roendo à volta das unhas de solidão
fazendo planos e promessas e o poema
dizendo tudo com o sentido próprio de nada
dizer com palavras tão pobres
(e alguma coisa
me escapa sempre
me escapou como)
o teu adormecer ao fundo dos quilómetros
ignorando se ficamos se partimos. tudo
caminha. e ainda o mistério o poema
reconhecemos os nossos
rostos por tão longe ligados
a afectos dispersos despendidos
se por fim vêm os teus braços remotos
e esta caneta e mão terminam
o poema pensando no teu corpo
pelo lado menos virtual
com o cão aos pés da cama.

(versão original aqui)

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