sexta-feira, 25 de setembro de 2009

poema sentido

escrever poesia e não
saber o que
é o que isso é
e continuar
sabendo que é
só escrita
e procurar
o poema aqui
enquanto a escrita
se faz. dizer no começo
eu sou um homem
o que é pouco o que é
muito dizê-lo e ser
sendo sem nada
para dizer ou escrever
e saber o nome
de tantos outros e outras
homens e mulheres
poetas dizendo
os seus nomes
que tanto já disseram
que tanto já escreveram
e a humanidade
os homens
as mulheres ainda
por salvar ainda
por escrever
como tantas mães
e tantos pais
que já foram
filhos e filhas
e irmãos e irmãs
de tantos mais
que nada disseram
e ainda nada
dizem e escrever
para eles e elas
construir o mundo assim
em silêncio
os carros pelas janelas
da segunda circular
até aqui ao quarto sexto andar
em silêncio
e apenas o raspar da caneta
no papel e os sons do corpo
deste aqui o meu
puxando a pele roendo
à volta das unhas
fazendo planos e promessas
e o poema
dizendo tudo
com o seu sentido
próprio que nada diz
com palavras tão pobres
porque alguma coisa
me escapa sempre
me escapou como
o teu adormecer no sul
agora e os condomínios
à volta e os prédios
de apartamentos vazios
tendo as férias já sido
já foram e Monchique
continua lá
para a esquerda vista
do terraço e nós
ignorando se ficamos
se partimos.
tudo caminha é certo
no mistério e o poema
levanta o sentido cansado
dele e por fim lido
reconhecemos os nossos
rostos o que ligava
pelos afectos os que já
se perderam. vêm
abraços de longe
no esforço de segundos
nas teclas
e esta caneta e mão
terminam o poema
pensando no teu corpo
pelo lado menos virtual
com o cão aos pés da cama.

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