domingo, 6 de março de 2011

arkaneftá (4)



não mais te soltar aos murmúrios da noite, sem te saber altiva nos espelhos dos dias. resolutamente fechamos a vida ao que lá fora estremece batendo-nos à porta, porque é a massa de uma estrela aereamente brutal, iluminando os anos de treva que se seguirão com nuvens de átomos, com o terror que há sempre no canto dos pássaros, antecedendo o seu próprio silêncio de fuga.

é terrivelmente profundo o poema que esgravato de unhas sujas e dedos pelando-se de sangue. é suave, quando arquejo aos teus olhos tentando dizê-lo à tua boca. o poema duplica-se, completa um movimento e precipita a verdade recortada com raiva, alegria, com custo, cuspo que desliza entre o teu canto da boca e a ruga de lua na sua fronteira.

(no encontro dos corpos, limitando-se a um segredo de um substantivo que desconheço, o teu corpo que treme de melodia, numa selvajaria celeste sobre a minha respiração cinzenta)

- eu posso modificar-me contra o mundo humano, eu posso cair, mas ergo-me sempre colado nas palavras, esperando-te se estás longe, quando fui eu que parti, com a cara no sofrimento, e eu coçando a barba, contando as aranhas, os passos; e tu, os segundos, os gatos que choram de cio à janela.

(junto às estradas que atravessamos nas viagens de amanhã, construiremos um lugar de silêncio, onde estaremos sós, esperando que nunca nos incomodem, mas que nos visitem se quiserem ou nós a eles, que não nos peçam nada, que sejam apenas)


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