a vida, a nossa, a deles, não é um sentido propiciatório da linguagem, um poema que se cria e vive, é uma espécie de cinema das palavras, do pavor, do medo, da insegurança e nenhum arrepio de horror, nenhum olho vidrado de susto, sequer um transe me inclina a pensar o que devemos fazer enquanto vivos é o contrário do que tenho escrito, e digo assim porque se trata do princípio “de cima para baixo de baixo para cima”, mas sempre em cima da cabeça, onde começa o fim do poema, para ver o corpo que, se faltava em tempos na “fotografia”, agora se encontra em azul de caneta neste poema.
para seguir até ao fim, para não me perder e não vos perder neste enredo de palavras, nesta malha que chamo poema, mas não tão densa trama como aquela, se os nossos olhos possibilitassem a sua visão ficaríamos pasmados de tão bela teia de aranha, que nos liga; para escrever com os olhos uma coisa completamente viva e completamente distante da vida que tenho e da morte que carrego, tento criar na ponta dos dedos uma leveza indomável, uma leveza que é uma linguagem, uma energia e delicadeza que atravessam o ar, até raspar leve na face do meu amor ou dos dois amantes.
para escrever isto tudo, para este poema cair forte nos olhos e nos ouvidos, escrevo sobre nada. e de nada em nada deixo-me encher, pelo gozo básico de estar a ser, de estar a escrever e, paradoxalmente, de sentir que estou a pensar e pensar apenas quando escrevo.
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