domingo, 13 de fevereiro de 2011

Wilfred Owen (1893-1918)



PARÁBOLA DO JOVEM E DO ANCIÃO

Ergueu-se Abraão, rachou a lenha e partiu
E consigo levou a chama e um cutelo.
E quando juntos se quedaram ambos,
Isaac, filho primeiro, assim falou: «Meu Pai
Tudo está preparado, o ferro e o fogo
Mas qual é o cordeiro a imolar nas chamas?»
E Abraão prendeu o jovem com cinturões, correias,
Em redor construiu trincheiras, parapeitos
E empunhou o cutelo para matar seu filho.
Dos céus um Anjo lhe bradou então
E disse: «Não levantes a mão contra esse jovem
Nada tentes contra ele que é teu filho.
Vê! Um cordeiro preso está ali naquela sarça.
De orgulho oferece um sacrifício em vez do jovem.»
Mas por não querer assim, matou o velho o filho
E um por um também metade dos filhos da Europa.


in Wilfred Owen, Elegias, Lisboa, Relógio d'Água, col. Poesia, selecção, prefácio e tradução de João de Almeida Flor, 1999: 69.

Sem comentários: