domingo, 24 de outubro de 2010
Finisterra
Este era o fim da terra: os últimos dedos, enodados e reumáticos,
Apertados no nada. Negras
Premonitórias ravinas, e o mar explodindo
Com nenhum fundo, ou nada no outro lado de si,
Empalidecido com os rostos dos afogados.
Agora é só sombrio, um depósito de rochas –
Restos de soldados de antanho, guerras desordenadas.
O mar canhoneia no seu ouvido, mas elas não mexem.
Outras rochas escondem a sua aversão debaixo da água.
As ravinas margeiam-se de trevos, estrelícias e campainhas
Como dedos poderão adornar, próximos da morte,
Quase tão pequenos para a névoa se preocupar com eles.
As névoas fazem parte da antiga parafernália –
Almas, enroladas na grave sonoridade do mar.
Elas ferem as rochas até à morte, depois fazem-nas rediviver.
Elevam-se desesperançadas, como suspiros.
Eu caminho entre elas, e elas enchem a minha boca de algodão.
Quando me libertam, sou um colar de lágrimas.
Nossa Senhora dos Naufragados caminha em direcção ao horizonte,
As suas marmóreas saias sopradas em duas asas rosas.
Um marinheiro de mármore ajoelha-se distraidamente aos seus pés, e ao seu
Uma camponesa de negro
Reza ao monumento do marinheiro suplicando.
Nossa Senhora dos Naufragados é o triplo do tamanho normal,
Os seus lábios adoçados pela divindade.
Ela não escuta o que diz o marinheiro ou a camponesa –
Ela está enamorada com a informe beleza do mar.
Rendas cor de gaivotas batem ao sabor das correntes marítimas
Junto da estante dos postais.
Os camponeses ancoram-na com conchas. Num deles diz-se:
“Estas são as bagatelas que esconde o mar,
Conchinhas feitas colares e bonecas de brincar.
Elas não vêm da Baía dos Mortos lá em baixo,
Mas doutro lugar, tropical e azul,
Onde nunca fomos.
Estes são os nossos crepes. Comam-nos antes que arrefeçam.”
Sylvia Plath, Crossing the water-transitional poems
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