sábado, 23 de outubro de 2010

Monte uivantes




Os horizontes anelam-me como feixes,
Inclinados e díspares, e sempre instáveis.
Tocados por um fósforo, talvez me possam aquecer,
E as suas finas linhas chamuscar
De laranja o ar
Antes que as distâncias que eles fixam evaporem,
Pesando o pálido céu com uma cor mais sólida.
Mas eles apenas se dissolvem e se dissolvem
Como uma série de promessas, enquanto me chego à frente.

Não há vida maior senão nos montes de ervas
Ou os corações de ovelhas, e o vento
Derrama-se como destino, dobrando
Tudo numa direcção.
Consigo senti-lo a tentar
Afunilar o meu calor para longe.
Se eu presto demasiada atenção
Às raízes do feno, elas convidar-me-ão
A esbranquiçar os meus ossos entre elas.

As ovelhas sabem onde estão,
Navegando nas suas porcas lã-nuvens,
Cinzentas como o clima.
As negras ranhuras das suas pupilas acolhem-me.
É como ser enviada para o espaço,
Uma magra, pateta mensagem.
Elas permanecem por aí mascaradas de avós,
Todas de perucas encaracoladas e dentes amarelos
E duros, marmóreos balidos.

Eu venho para rolar sulcos, e água
Límpida como as solidões
Que fogem por entre os meus dedos.
Ocas soleiras de erva para erva;
Lintel e limiar desequilibraram-se a si mesmas.
Das pessoas o ar somente
Se lembra de umas estranhas sílabas.
Ensaia-os lamentando-se:
Pedra negra, pedra negra.

O céu apoia-se em mim, eu, a aprumada
Entre todos os horizontais.
A erva bate a sua cabeça distraidamente.
É demasiado delicado
Para uma vida em tais companhias;
A escuridão aterroriza-a.
Agora, em estreitos vales
E negros como bolsas, as luzes da casa
Cintilam como trocados.

Sylvia Plath, Crossing the water - transitional poems

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