sábado, 3 de julho de 2010

rui caeiro

A porta

Uma porta com um guarda. Alguém se aproxima.
- Senhor guarda, essa é a porta do inferno?
- Porque é que pergunta?, diz o guarda.
- Porque a essa não quero eu transpor umbrais.
- Meu caro senhor, esta é, sim, a porta do inferno. Uma das portas.
Começando a afastar-se:
- Obrigado, até não mais ver.
- Um momento, meu caro senhor, ainda não lhe disse o principal.
- Diga, então. Sou todo ouvidos.
- Esta é, sim, uma porta do inferno. A de saída.
- De saída? Como assim?
- De saída, repito-lhe. A si compete avaliar de que lado tem estado até agora.
- De que lado? Como assim?
- É a si que compete avaliar se tem estado do lado de dentro ou do lado de fora. Para depois, se quiser, e em conformidade, transpor ou não os umbrais.
- Mas, senhor guarda...
- Caro senhor, não temos mais nada a dizer um ao outro.

in AAVV, Telhados de Vidro, nº 12, Maio de 2009: 91.