terça-feira, 18 de agosto de 2009

uma cantina debaixo do vulcão





para o tiago de faria

O mais terrível de tudo é este tiquetaque
Que evitas, desdenhas ou excluis
Enquanto outros tacteiam o corrimão, rígidos, olhando fixamente para baixo
Agora com um fundo de tequila, beatas, colarinhos sujos
Dos corações duas vezes quebrados mas agora reunidos
Vivendo enfim as vidas que sempre ansiaram

Se te apetecer, podes passear
Quão semelhante a um homem é o homem que se levanta tarde
Espiando uma vez mais, através das janelas
Com a porta aberta e o vento a soprar
Mas sem companhia, sem a companhia a não ser o medo
Quando o rio é uma estrada e a mente vazia.

O mestre tenta ler mas sonha com a casa
Pronta para amanhã
Nesta terrível terra dos homens meio enterrados
Antes do temível delírio de Deus
Cujas pedras pareciam trazer notícias de alguém
Às voltas e voltas, sujando o chão
Entre o meio-dia e a chuva
(tão imenso é o desespero de Deus).

Há algo assustador nos fantasmas das casas novas
Andorinhas do mar que vão e vêm
Enquanto os homens têm corações e flancos que sofrem e oxidam
E o que devemos e o que não devemos tolerar
Nesse pensamento que por si vive e que a tua compaixão não nos esqueça.
Devias implorar o rugido do vento do mar
De um belo anoitecer muito amado
Ao bar sonhado onde o desespero se senta
Adormecido, ele luta toda a noite com uma vela!

Quando um punhado de bêbados se juntam
Para as flores silvestres e para as flores do lago
A música da nossa desatenção.

Um dia na sua infância a planície tempestuosa
Mas nenhuma esperança surge
Aparentemente ninguém a viu.
O amor não se foi, apenas as palavras do amor
Como o som de um relógio
No crepúsculo, estranho mundo do amor
Quem saberá dos seus sonhos agora que o mar ruge
Com as suas simples conchas e as baleias expelindo
Na água verde-escura
Bela, dócil e selvagem

Uma criança pode não encontrar palavras para a sua dor
Este é um mundo de mistérios inúteis
Só o sino que toca não espera
Pois aqueles que bebem os seus abismos são os afogados.
As dores da noite têm todas os seus lugares trágicos
Galopando pelos campos ao cair da noite
Se tiveres de lamentar-me deixa que esteja bêbado
E tivesse ficado na obscuridade para sempre, falhado e vencido:
Malcolm Lowry tocando ukelele.

2008
A partir de As cantinas e outros poemas do álcool e do mar de Malcolm Lowry

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