terça-feira, 18 de agosto de 2009

cristina no campo de deus





para a cris


dobre-se o vestuário branco estival
morremos separados. quando muito
tornarei sem dor
volto sozinha
por vezes digo: tentemos ser alegres
entre as orlas de uma ferida
pelo som suave
no escuro das pupilas
sob mil e seiscentos anos de lava –
e a cidade emaranhada dos meus amores
este passo de deus…
desenhava para ti uma obscura palavra
para trocarmos as fábulas mais suaves
se a corda do coração não estiver tensa
e o dia escuro como grandes rodas paradas
mas perder-se no meio das estantes
debaixo do primeiro Outubro
mas nem ali estás agora, estás entre as grandes asas incertas
demasiadas coisas receberam as tuas pálpebras
sobre a suave, doméstica estrada da loucura
– a noite que não verei –
por anos caminhei ao longo de primaveras
sempre oculta
mortal
inocente
mas soluçando suavemente conceber
a Tigre Ausência
um instante suscitado
de quem até fim padecem
cimos da respiração do amor
da cabeça à mão à perna
dos cinco sentidos no turbilhão incandescente
todo o entendimento, toda a traição: a paz
que com mais dentes que o amor morde
como o teu sangue, espelho do teu sol!
dar graças pelo silêncio
de flores em botão e ramos e
o lentíssimo beijo de olhos fechados, que sucede a tão longo olhar
de paixão e palavra
a testemunhar, a ferir,
e no centro, no plexo, no coração
testemunhada apenas por escassas e imóveis bonecas.

2008
A partir de O passo do Adeus de Cristina Campo

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