terça-feira, 18 de agosto de 2009

uma canção erótica





Espanta-me, em verdade, o que fizemos, tu e eu
onde estão os anos do passado, diz!
agora já me amaste por um dia inteiro
mas quem encontrou a beleza interior
vai dizer aos mosteiros que o rei sai a cavalo
aquecer o mundo, tal se cumpre em nos aquecendo
que viaje, me hospede, arrebate, intrigue, possua, esqueça,
cumprir a promessa da meia-noite; pelo caminho, enganar
podemos morrer por ele, se não vivermos por amor.
sou duas vezes louco, eu sei,
se até agora não possuo o teu amor
porém, também não o queria todo ainda
nem espero que o mundo me mostre amor mais digno de mim
nem deixes teu coração adivinho prever-me algum mal
se bem que encontrei algo semelhante a um coração,
assim numa voz, assim numa chama informe,
um adorável e glorioso nada eu vi;
devemos levantar-nos só porque está luz?
O próprio sol, que marca os tempos que vão passando
anos e anos sobre anos, até que venhamos a conseguir
como nenhum ponto, ou traço
tão mais amante quanto mais triste
e isto murmuro durante o meu sono
clamando suspiros, cercado de lágrimas
vendo como o Amor nos concedeu a sua graça
pois embora a mente seja o céu onde assenta o amor
de quão grande é o amor, ajuíza melhor a presença
de acordo com o pendor da nossa fantasia
mas nem por isso maior, apenas mais eminente.
Dá-me a tua fraqueza, faz-me duplamente cego
Porque não confiei nos teus primeiros sinais
e então uma lei nasceu:
é fraco o amor quando o medo é tão forte como ele.

quando uma lágrima cai, cai esse tu que ele leva
porque tu e eu suspiramos o alento um do outro
obtendo apenas uma invernosa noite de verão.
ainda que o uso te autorize a matar-me
dividido entre o medo de perder e o pejo de ganhar
que, ah, demasiado tempo se fixaram em ti
por alguém

ele assassinou-me e eu renasci da ausência
fixo os meus olhos nos teus, e aí
e aí os peixes enamorados ficarão
quando o teu desprezo, ó assassina, me matar
todas as outras dores cedem lugar
todas essas partes, embora desunidas
contudo, quando o outro longe vagueia
e nada dissemos, por toda o dia
controla as deficiências da solidão
sem primeiro deixar sua marca no ar
não consigo imaginar que quem então mais amasse
como se sentisse o pior que o amor pode fazer
no qual tinham parte a minha fortuna e meus erros
a minha ingenuidade e franqueza.

Tu, Amor, ensinaste-me – fazendo-me
através de todos os membros
atribuir-lhes tudo o que uma alma pode fazer
um coração pensante e nu, que não faz figura
como as pequenas estrelas o fazem no céu
se tal acontecer num tempo ou terra
pretendo que essa idade saiba por este papel
que, nua, és sempre superior a qualquer homem
o fogo da minha paixão, suspiros de ar
contudo, já que vieste, fica comigo
tem cuidado ao amar-me
para que, vivo, eu seja teu palco e não teu triunfo
durante os primeiros vinte anos, desde ontem,
que foi morto ontem?
tal como na última feira
o jogo do amor
a não ser que nossos amor se detenha nesta pausa do meio-dia
mas jura que acreditas que te amo, e nada mais
senão, eu satisfarei a essa vontade.

2008
A partir de Poemas Eróticos de John Donne

Sem comentários: