da sua solidão apaziguada pelas coisas
a memória do teu corpo
mas a tragédia acontece
movida por razões abomináveis
um pedaço de terra um nome para
o inominável vazio que mora no coração
o desejo inconsolado de ser
reconhecido por uma mãe
um pai um animal
o silêncio de um poema
acontece a tragédia
há o dilúvio de sangue lágrimas e tinta
a morte soterrada pelas cinzas
e o pó e as mãos
inúteis esquecidas
sobre as folhas brancas de um caderno
cobrindo depois o rosto devastado pelo vento
o horror e o nojo de se pertencer
ao grande projecto falido
desta irrepetível criação
pudessem as mãos escrever
recomeçar como fruto de uma ficção
e descobrir a inclinação da verdade
o sentimento que floria no olhar
da minha cadela quando visitava o meu
o do meu filho de cinco meses a observar
o movimento das copas fartas
e o voo dos corvos à janela
amoroso e sereno espanto que me faria
esquecer esquecer esquecer
o que o vivido faz pesar
no seu modo assombroso
assaltando-me como um predador
saído das sombras
e depois entregando-me
vulnerável
à morte lenta e tortuosa
de um eu cancerígeno que revolve
a cada odor lembranças
de quando era inteiro
a mão não agarra o tempo
a cavalgar
rápido para a sua tragédia
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