segunda-feira, 7 de novembro de 2022

diz a mãe: não cresças tão rápido

diz a mãe: não cresças tão rápido
deixa a tarde aceder à lentidão da eternidade
o desejo formado como um cristal
incólume e perfeito no segredo da terra

não tão célere como o cavalo domado
pelo repentino instinto selvagem de correr
cresce como a noite no ártico
quando o dia se acende no outro pólo

cresce como um puzzle inacabável
um monumento antigo erigido sobre
o seu silêncio         cresce de mansinho
e escuta o rumor do meu amor cantado
para te adormecer

                               como uma onda atravessando cada oceano
cresce apenas quando eu partir
nesse dia irrompe pelo céu
como um feijoeiro mágico e passa
a tua mão pelo meu rosto

passa os dedos incendiados
pelos lábios e o vale do anjo
que selou tudo o que era
anterior à palavra
passa os dedos e deixa
a cinza do gesto purificar o tempo
na aprendizagem da carícia

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