num deleite ocioso ofereço
uma laranja dourada ao meu irmão
de olhar quebrado pouco antes de partir
desta terra adormecida pelo sol
eu ouço a sua voz na rebentação
na chuva de agulhas de areia
na seara seca e suas casas
abandonadas como ilhas
prenhes de memórias e esta laranja
obra de cioso jardineiro
na mão do meu irmão
atracado a uma rocha e batido
pelas águas e correntes
vai seguindo à deriva de um passado
despelando as lembranças
desconfiando do que dá fruto
com os polegares dividindo
o corpo doce a escorrer como cêra
as suas lágrimas com certa acidez desdenhando
de um consolo tomado pela sua dor
eu emudeço com um abraço
despeço-me da sua rendição
avanço por este jardim
onde tanta beleza e frutos
dá vontade de chorar
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