a um morto nada se recusa
Mário de Sá Carneiro
quando eu morrer não batam em latas
não assustem os espíritos
deixem um pensamento
antigo e enterrado vos beije
a testa
e qualquer coisa ancestral
se aproxime dos lábios a jeito
de lamento ou canção bêbeda
não clamo por um burro que me carregue
mesmo sem pneuma esse como outros
animais deverá permanecer livre
da mão humana
desta carne destes ossos do que restar
da doação dos órgãos
(tratei este corpo como um templo
após a ruína da juventude)
venha depois o fogo e me consuma pela noite
dentro
toquem em flautas instrumentos
de sopro e cordas
ou a Prayer de Keith Jarrett em repeat
como ruído branco festejem
como bacantes levem as minhas cinzas
para o jardim do museu
do teatro belo na sua mistura clássica e agreste
(se ainda existir) e quem ficar e me queira
lembrar
que ponha uma pedra como se na memória
e o meu epitáfio (lázaro)
a ser lido
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