sexta-feira, 20 de novembro de 2020

aqui não há separação

não desesperes tudo se espera e não
estás só neste preâmbulo
abre os olhos ou a porta e deixa
basta um pouco de luz                que o entendimento
mais íntimo te esclareça
esta separação
 
tudo clama por si
este o maior segredo
exposto como a pedra ao vento
 
toma a água por exemplo
a onda bate no corpo e seca
ao sol levada à nuvem
cairá na erva do campo para as bestas
(tão erroneamente nomeamos a vida) inocentes
 a sua carne e leite para as crias
na lágrima do olhar desesperado na caravana
rumo ao matadouro
esses        depois        rios de sangue lavados
com nojo e desdém correm pelas sarjetas
e pias        as longas vias subterrâneas
          até aos centros de tratamento
onde a química retorna a pureza
da molécula que enche o copo
a boca o estômago o teu corpo
e por aí corre louca de memória a ti desconhecida
e corre ainda mais louca entre as bocas e línguas da paixão
no sal do suor nos sucos do sexo
e ainda nas tuas       também        desesperadas
lágrimas de besta humana (qual o termo a ti erróneo)
caídas ao rio que corre incessante
para o mar        para amar
                                          cada outro encontro de hidrogénio e oxigénio
e enfim desaparecer
                  na imensidão do oceano
 
tudo clama tudo anseia por si
e nada está separado       já o disse
esse vazio está pleno       essa distância
é um retorno para dentro

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