domingo, 25 de outubro de 2020

carta da felicidade

 

parto        cansada de ser vista
pelo canto do olho        ignorada
quando te encontras frente a frente
como na audácia da intimidade
nada te diferencia nada te (co)move
e dizes-me além onde o horizonte te espera
impossível de dar a mão
sem que o mundo que avança
nas suas voltas de carrossel
desencaixado dos seus eixos
e pendendo para os poucos
te permita nele habitares comigo
 
eu conheço-te e tu a mim        muitas
foram as noites ao lado
no entrelaçamento de laços
na exposição do corpo
                      do coração aberto pelas insónias
em mesas comunitárias
camas a que emprestei o meu rosto
e de mim só um aroma a cinzel
grafado no arquivo de fantasmas
 
despeço-me        desapareço         nem sequer
precisas de te levantar
segue no teu deslizamento para o silêncio
pelos dias guiados por uma ética
de desesperos        esquece-me nos livros
mas quando do mais baixo dos chãos
reconheceres a passagem das coisas
com a mesma pesagem
ver-me-ás às cavalitas da infelicidade
de onde quer que olhes        a partir
da tua nudez

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