poucas coisas são puras
no mundo certos cristais
a vida indefinida e impessoal
para lá de toda a religião e ciência
e raros instantes
em que os dois mergulhados
no que se diria a mais total porcaria
suor saliva fluidos sexuais
eliminando o atrito separatista da carne
se suspendem num aperto sufocante
os olhos dentro dos olhos
afirmando a absoluta presença
de um do outro
oh haecce haecce
és tu-és tu
e lágrimas escorrem pelos rostos
como por máscaras fúnebres
lentas gotas de cera de uma vela acesa
e nada nunca é dito para este
mútuo entendimento
o sentido não tem necessidade
deste poema apenas a memória
como certeza da existência de ti
e de ti e da pureza da mais pura
mistura que é o amor
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