domingo, 17 de junho de 2018

Uma tarde em Merschsee

ao entrarmos por essas águas esqueçamos
os nomes dados e demais
atributos das páginas
finais de jornais e revistas
da boca do mundo – quão longe
estamos de uma vida como exemplo
a qual ditava o passo estóico
enchendo-nos hoje com a desgraça
alheia a par do riso acre como um gesto
ilusionista levando a nossa atenção
para longe do que está por trás do pano

há muito que a solidão nos deu a mão
esvaziou as ruas da cidade e nos guia
às escuras pelos vasos comunicantes
da química metafórica

entrámos por essas águas – proibidas
disse-nos um marinheiro de entardecer
manobrando o seu veleiro
telecomandado – nus agora que vemos
de olhos bem abertos o que foi feito
e a duplicidade do abandono
que tardiamente nos aproximou

basta um terceiro qualquer e a armadura
cobre-nos o corpo e a língua
à partida         enxutos             queimados
                                                               ficou nos lábios um desejo
entrem essas águas pelas nossas vidas adentro
derrubem os diques           que nos alaguem
se somos uma ilha
                           num arquipélago de dor


Bad Meinberg

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