Na vala
cobras rastejam frios trilhos
ao longo da coxa apodrecida, os ossos dos dedos do pé
estremecem no cheiro de borracha queimada,
a barriga
abre-se como uma flor nocturna venenosa,
a língua evaporou-se,
os pêlos
da narina aspergem-se com um pó branco amarelado,
as cinco chamas no fim
de cada mão apagaram-se, um mosquito
beberica uma última refeição deste prato de serenidade.
E a mosca,
o derradeiro pesadelo, desova-se a si mesma.
6
Corri
de pescoço partido corri
amparando a minha cabeça com ambas as mãos corri
pensando as chamas
as chamas poderão queimar o oboé
mas escuta amigo elas não podem tocar nas notas!
7
Alguns ossos
jazem entre o fumo de ossos.
Membranas,
efígies prensadas na relva,
meandros mumificados,
descamações,
colchões flácidos incinerados dão-se ao mundo,
memórias deixadas em espelhos nos tectos de bordéis,
asas de anjos
marcadas nas neves de antanho,
ajoelha-te
na terra queimada
nos contornos de homens e animais:
não deixeis que esta hora passe,
não retireis este último copo de veneno dos nossos lábios.
E um vento suspendendo
o gritos de sexo de todas as nossas noites e dias
move-se por entre as pedras, à caça
de dois esqueletos entrelaçados para soprar neles o seu grito final.
Tenente!
Este cadáver não parará de arder!
in Galway Kinnell, The Book of Nightmares, Boston & New York, Houghton Mifflin Company, 1971: 44-45
Sem comentários:
Enviar um comentário