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entorpecido pelas horas escutas
a vida que te clama
puxas os lençóis ensopados de pesadelos
e esquecimento
os pulmões agora habituados à ausência
de tabaco queixam-se como um reformado
num diálogo com o arrulhar de pombos
a cinza sedimenta-se em todo o teu redor
e nos reinos interiores abres a janela e o ar
de frio negativo bate como uma onda
faz notar a presença dos ossos
diz que tens um rosto sem metáforas
e nesta hora do lusco-fusco
a quarta hora a de todas as possibilidades
a hora de Janus
olhada com paixão por Magritte
a abóbada celebra o casamento dos astros
à tua direita o éter e o ozono azuleiam
a terra queima de laranja a anos-luz
à tua esquerda a noite e a lua
guiam os sobreviventes aos seus lares
cambaleando de álcool e cansaço
cantando por mais uma
vitória sobre o relógio da sociedade
e este noivado é bom
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