nada
predizia esse momento
da
perfeita queda por entre os ramos
do
pinheiro justo ao teu ombro desnudado
de
uma luminosidade sobre a tua carne dourada
salgando-se
de suor. hoje posso dizer
o
amor tem o seu lugar específico
a
sua distinta morada no mundo:
o
teu ombro e o teu selvagem cabelo
em
infantis brincadeiras com o meu desejo
a
tua respiração passava pelos meus dedos
e
o teu coração batia sobre os meus lábios
espumosas
vagas enovelavam-se na fraga deste corpo
o
mês de julho e seus amenos dias declinava
nessa
triste e desabitada casa em que nos íamos conhecendo
perdoem-nos
amigos e família
a
paixão é egoísta uma pobre eremita
pouco
nos interessava a crise à beira destas poucas vidas
tínhamos
fronteiras suficientes
(passado
cultura línguas)
dobradas
à força de uma certa clandestinidade
reconhecida
somente por aqueles que nada mais têm a perder
que
o amor trágico que sempre nasce perdido
mas
fechem os livros esqueçam as histórias
e
considerem aqueles dois corpos
(eu
e tu meu amor eu e tu
e
tudo que nos aparta
e
nas partidas nos traz de volta)
num
sentimental verão mareado
tendo
à mão o luxo do tempo
o
ócio juvenil sentados numa espreguiçadeira
ele
(eu) de tronco nu recostado no encosto
ela
(tu) pouco mais vestida e reclinada sobre ele
a
sua mão masturbando-a
ambos
ébrios de desejo e vinho
até
o cansaço os levar à bátega morna do sono
(a
eternidade dos segundos a sua duração)
muito
pouco teve o amor para construir um mundo
sobre
a ruína dessas duas vidas
mas
soube edificar um abismo de luz sobre o teu ombro
para
a minha desamparada e continuada queda.
2 comentários:
Maravilhosa história da consumação de um amor clandestino.
obrigado
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