quinta-feira, 28 de outubro de 2010

mulheres pesadas




Irrefutáveis, belamente convencidas
Como Vénus, numa meia concha em pedestal
Cabelos louros em xaile e a gaze
De sal de uma brisa marinha, as mulheres
Acomodam-se nos seus vestidos de campânula.
Sobre cada pesado estômago um rosto
Flutua calmo como a lua ou uma nuvem.

Sorrindo para si, elas meditam
Devotadamente enquanto o bolbo Holandês
Vai formando as suas vinte pétalas.
A escuridão zela ainda o seu segredo.
Na verde colina, sob as espinhosas árvores,
Elas escutam o milénio,
A batida do pequeno, novo coração.

Crianças de rabo cor-de-rosa assistem-nas.
Enrolando lã, fazendo nada em particular,
Elas caminham entre os arquétipos.
O crepúsculo cobre-as num azul-Maria
Enquanto ao longe, o eixo do inverno
Mói à volta, forçando para baixo com a palha,
A estrela, os homens sábios e cinzentos.

in Crossing the water - transitional poems

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