terça-feira, 30 de julho de 2024

depois de canoagem de JMM

hoje sei-me só no corpo vulnerável (que fracassa)
sei-me longe do sangue que filia
dos prados das montanhas

sei-me só junto ao fel da navalha e da ruína
das estátuas deitadas no musgo
dos cancros nos troncos podres caídos pelo vento

como uma cidade adormecida assombra-me um silêncio
entre a boca e o peito desde o primeiro ar sorvido
fecho os olhos à beira dos rios onde a luz se irisa
para acolher o mensageiro de um sonho

sei-me só

num sussurro o mundo uma lacuna
o tempo sem onde cair morto nas mãos
a dar nome à poeira
nos lábios junto ao sabat da sua nuca

espero notícias sobre quem vem de sem onde
habito os castelos de núvens para saber
um pouco mais o sabor da queda

sei-me só à beira da fogueira que vela
a última luz sob a cinza

um inverno livra-me de ti e de mim
debaixo da neve do gelo da madeira
queimada a alimentar a desilusão

sei-me só

se desaparecer quem nos amou como sobrevivemos ainda

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