domingo, 23 de abril de 2023

para conhecer uma língua

fui chamado a falar 
e as pedras suspiraram
no seu abandono

levantei o olhar para a lua
que prescindiu a reflexão

errei assim
pelas palavras         caídas de um astro
ao longo das inclinações         com a soberba
subida aos lábios         o retinir
dos sinos fremindo a água
dispersou a atenção sonhadora da criança

fez-se-me surda a boca à vontade

fui chamado
para falar         submeter o desígnio
das coisas à adivinhação dos dedos

só ele escuta a língua
que falas com a sede de uma terra estiada

com cuidado plantando a novidade
no mundo a cada vez iterada

também ele um dia será
chamado         e a custo
a língua lhe pedirá que conheça
o abandono da pedra

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