para te livrares do horror, que tinha o seu lugar seguro na memória, que na maré baixa da consciência revela o pântano dos sonhos em que te afundas, criaste o herói e o seu émulo. escreveste em pedra, tábuas, pergaminhos, folhas de palmeira, pele – na tua, na dos outros – quando o horror tomava mais terreno na memória empurrando as histórias para o esquecimento deserto. já nada corria de voz a voz, ninguém junto ao lume. foi necessário determinar, assim aferiste, os lugares da luz – porque havia tanta escuridão em ti – e os lugares da sombra – porque havia tanta escuridão por ti. disseste o que era o alto e o que era o baixo para a ordem e a lógica da casa. criaste monstros sedentos de justiça, de vingança, de ciúme, obcecados pela adoração, hecatombes, castigos, maldições. escreveste frente a espelhos a partir da tua imagem. fala-se de monstros do lugar mais íntimo do conhecimento. fechaste a vida no mausoléu das altas e baixas leis, quando o seu espaço é o fora mais radical. sabe isso e dirige-te para lá.
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