quarta-feira, 13 de abril de 2022

notas sobre o assentar das areias (cont.)

retiraste-te do fundo, como que saído de um canto iluminado para uma clareira sombria. conheceste a violação das coisas, introduziste os dedos junto ao coração. a cada tomada, a cada avanço separavas com orgulho, a cada vez como que a derradeira, ouro da ganga. depois, ganga da ganga. surdo aos gestos, aos pedidos. punhas tudo em fuga, a fogo. o ferro silenciava. de longe começaram a temer-te. desfiguraste a morada para erigir sobre sangue, ossos, a mutilação de toda a presença: casas vazias. desfiguraste a morada para erradicar o teu medo do escuro. a tudo trazes a luz, mas esqueces a iluminação das coisas do espírito e da carne. em tudo cai a tua sombra.

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